sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Minicontos macabros

Os textos abaixo não são indicados para quem tem o coração fraco. Depois não diga que eu não avisei! :-D 

Monstrinho

Rodolfo nasceu miudinho e lindo de morrer.
- Reparem só nos cachinhos esverdeados! – suspirou a mãe.
- E os expressivos olhinhos cor de cereja? – elogiou o pai.
- Notaram que verruguinha mais simpática? – apontou o avô.
- E o hálito? Lembra os mais caros queijos franceses – comentou a avó.

A vida não era só um mar de rosas. Junto com a paparicação vinham regras rígidas.
- Você é muito pequeno para sair de casa. Brinque com o que tem por aqui.

O que tinha por ali não era muito. Uns 4 ou 5 cubos de montar, o pé esquerdo de um patins, um carrinho sem rodas e uma meia furada. No entanto era só olhar para fora que via uma enorme quantidade de brinquedos. Aquele mundo estranho parecia ser muito divertido e ele precisava conhecê-lo de qualquer jeito.
A hora chegou junto com o sol da manhã. Seus pais ainda dormiam quando Rodolfo se levantou. Decidido a burlar a regra paterna, deu um passo para fora de casa quando... um enorme pé esmagou-o no chão.
- Ô Manhê! Acho que pisei em um bicho! – reclamou a criança ao se levantar da cama.

Dorme, neném

- Conta uma história?
- Já passou da hora de dormir!
- Uma pequena, vai?
- Só se você prometer que vai ouvir de olhos fechados. Tudo bem?

O garoto concordou.

- A neblina embaçava o caminho do estaleiro quando o vampiro...
- Não quero história de terror! Assim não vou conseguir pegar no sono – reclamou.
- Aiaiai... Tá bom. Era uma vez um menino que não queria crescer... Aí a fada saiu da gaveta espalhando seu pó multicolorido... Foi quando os piratas sanguinários aprisionaram o moleque... O ensurdecedor tilintar das espadas ecoava pelo tombadilho... A bocarra crocodiliana sorveu o sangue bucaneiro...
- ROOOOONC! – a criança dormiu.
- Finalmente.

O monstro parou de contar a história, saiu debaixo da cama e devorou o menino inteiro, de uma bocada só.

Barata Cascuda

- Acorda, Alberto! – Janete sacudiu o marido com força para que ele despertasse.
- Hein, o que? Pô, Janete, sabe que horas são? Amanhã é quarta-feira! – Alberto se virou e pegou os óculos na mesinha de cabeceira para conferir o relógio.
- Tem uma barata cascuda embaixo da cama! – cochichou a mulher.
- Janete, são 3 horas da manhã. Tenho uma reunião logo cedo com o Dr. Silvério.
- Faça alguma coisa, Alberto. Não vou conseguir dormir com esse bicho aí – gemeu.
- Tá bom, Janete – o marido suspirou resignado e apanhou uma lanterninha na gaveta da mesinha. Virou-se de bruços e abaixou a cabeça para ver embaixo da cama. – Você verá que não há nada. É só eu...

Um alienígena com olhos amarelos, garras e corpo de inseto arrancou a cabeça de Alberto e comeu. Enquanto o corpo do homem estrebuchava sobre a cama, o visitante saiu de seu esconderijo e fitou a mulher. Depois rastejou em direção à janela e voou para fora. Janete ficou alguns minutos olhando para o tapete de sangue que se formava no chão. Depois deitou e puxou o lençol.

- Pode deixar, querido. A barata já saiu voando pela janela – disse antes de dormir.

3 comentários:

  1. terríveis e horrorosos.
    :>)
    todos os três.
    well done!

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  2. Obrigado, Angela. Os dois primeiros textos são mais leves, acho que porque gosto mais de escrever para crianças. Mas resolvi carregar unm pouco mais nas tintas do terceiro. Fico feliz que tenha gostado. :)

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