terça-feira, 21 de setembro de 2021

Queremos mais livros de autoria brasileira em destaque nas livrarias!


Tristeza é um sentimento que raramente combina com livraria. Não sei se a pandemia me fez mais crítico ou se eu nunca quis enxergar o problema. Talvez os colegas autores já tenham passado por algo semelhante. Quem nunca entrou em uma livraria para procurar seu livro entre as prateleiras? Se já fez isso, sabe a dificuldade que é competir com livros de autores estrangeiros (nem sempre bestsellers, nem sempre bons livros) e autores consagrados na década de 70. As vezes encontramos algo escondido em algum canto, misturado aos outros livros para 6 anos, 8 anos, 10 anos, 12 anos (também de autores gringos)... Eu nunca me importei muito com isso. Só o fato de ter o livro na livraria já me dizia que o livro estava cumprindo a sua missão. 

Hoje, no entanto, ao visitar a Livraria da Travessa de Ipanema, percebi a ilha principal da área infantil, o espaço mais importante do setor, para onde todos os visitantes se encaminham em primeiro lugar, com 33 livros em destaque, e constatei que, desses, somente três eram de autores nacionais. Um deles de Lázaro Ramos/Lais Dias, outro de Clarice Lispector/Kammal João e o terceiro de Aryane Cararo/Duda Porto de Souza. Mais adiante, na bancada baixa de trás, encontrei um livro da dupla Tino/Odilon e outro da dupla Kiusam/Rodrigo Andrade, entre outros de autores estrangeiros.

Puxa vida! Eu conheço centenas de autores nacionais. Muitos batalhando por espaços, ganhando prêmios, com trabalhos lindíssimos, bem mais bonitos do que muitos daquela ilha. Cadê Roger Mello, Stella Maris Rezende, Nelson Cruz, Luiz Antonio Aguiar, Flávia Savary, Rosana Rios, Rogério Andrade Barbosa, Leo Cunha e tantas outras feras da nossa LIJ? Cadê os nossos livros nas livrarias?

Fui falar com a pessoa responsável pelo setor para fazer essa crítica construtiva. Para minha surpresa, ela concordou e, muito educadamente, respondeu que ali ficavam os livros com mais cópias disponíveis. Disse ainda que os livros de autores brasileiros chegam com poucas cópias, as vezes nem cinco, e por isso não estão na ilha. Fiquei com a impressão de que não era ela quem decidia quem entrava ou saía da ilha.

Ora, é a própria livraria que é responsável pela quantidade de cópias colocadas a venda, não é? 

Agradeci e me despedi, saindo dali chateado. Sei que há livreiros que indicam autores nacionais, que agregam esforços para ajudar o mercado, autores e editoras, que dão espaço para esses livros. Mas estes são poucos.

A questão é delicada. Envolve muitas partes. Envolve o que é comprado e o que é ofertado. Envolve grana.

As grandes livrarias poderiam, se quisessem, apoiar o mercado nacional dando destaque à produção nacional em suas ilhas e gôndolas. Há, é verdade, algumas prateleiras reservadas para alguns autores consagrados na década de 70, como Ruth Rocha, Ziraldo e outros medalhões. Mas as gerações que vieram depois dessa são espremidas nos fundos.

Espero um dia ver uma ilha com pelo menos 50% de livros de autores brasileiros, entre clássicos e contemporâneos. A nossa literatura infantil é uma das melhores do mundo, mas parece que alguns têm vergonha de mostrar.

#livrariadatravessa

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