domingo, 1 de julho de 2012

Espaço LIJ - Julho de 2012

Quando recebi o convite para assinar essa coluna, logo pensei em entrevistas, resenhas de livros, lançamentos, chamadas para oficinas e coisa e tal. Mas depois veio a ideia de escrever um artigo sobre o surgimento da literatura infantil. Puxar desde lá do comecinho mesmo, quando as crianças eram criadas para serem vistas e não ouvidas. Pus as mãos à obra e juntei um monte de informações que resumi abaixo. E para começar com o pé direito, nesse mês os convidados da coluna são Romont Willy e Luiz Antônio Aguiar.

Ah! Para decorar esse espaço, peguei emprestado um logo que criei meses atrás para um outro site meu. Enquanto o projeto não sai, ficará morando por aqui.


ILUSTRA com Romont Willy

A partir desse mês, o Espaço LIJ esmiuçará uma ilustração de um artista super talentoso. Estreamos com o amigo Romont Willy, esse gênio dos pincéis de Brasília.

A ilustração é do livro A História Estranha de Eduardo Peçanha (de Gilberto Lacerda e Romont Willy, Globo – 2012).


Romont Willy é autodidata. Sua pintura vem de anos de observação e testes de materiais, não tendo, portanto, uma técnica fixa. A maioria de seus desenhos é pintada com tudo que ele encontra em sua mesa: lápis de cor, canetinhas, giz pastel, ecoline, aquarela, guache, acrílica, caneta esferográfica, corretivo para canetas, lápis dermográfico, carvão...

Romont já tinha criado as ilustrações do livro sobre as estranhas coleções do Eduardo Peçanha no Illustrator (programa vetorial), quando resolveu que ficariam melhores se pintadas à mão. Fez então os primeiros rascunhos a lápis. No decorrer da pintura testou e usou o que estava ao alcance. Neste caso, começou com uma base de aquarela e eco line  depois guache e um pouco de acrílica. Finalizou com giz pastel, lápis de cor e canetinhas. Depois do desenho pronto passou um verniz fixador. Há vezes em que, depois do verniz, ainda encontra detalhes que podem ser melhorados e conserta com tinta óleo.

Site do artista: www.romontwilly.com


O SURGIMENTO DA LIJ

Vamos pegar a cápsula do tempo e voltar algumas centenas de anos até o século XVII. Naquela época, os pequenos não tinham a saborosa liberdade que têm hoje. Era comum, por exemplo, que as crianças tomassem banho depois dos pais, usando e mesma água, já enlameada, da tina. Não havia privilégios. Logo cedo, por volta dos sete anos, eram treinadas para exercer uma profissão. Via-se um monte de meninas costurando, meninos carregando  madeira, pequenos cavalariços e cozinheiras. Se fossem da nobreza, estudavam piano, etiqueta, línguas estrangeiras e por aí vai.

Poucos sabiam ler. Livros eram raros e caros, um luxo das classes altas, e os contos de fada, oriundos da tradição oral, tinham os adultos como público-alvo. Seus personagens nem sempre terminavam felizes para sempre. Carregados de conteúdo pedagógico, com o objetivo de ensinar valores através do medo, normalmente traziam passagens horríveis para chocar e passar mensagens subliminares.

Em 1658, o educador tcheco Jan Amos Komensky (aqui Comenius) publicou aquele que é considerado o primeiro livro de imagens para crianças. Ilustrado com xilogravuras, Orbis Pictus é uma espécie de enciclopédia dividida entre os temas: natureza inanimada, botânica, zoologia, religião e humanos e suas atividades.

Em 1697 Charles Perrault publicou Contos da Mamãe Ganso, uma coletânea de 8 contos (A Bela Adormecida, Chapeuzinho Vermelho, O Barba Azul, O Gato de Botas, As Fadas, A Gata Borralheira, Henrique de Topete e O Pequeno Polegar), difundindo o gênero que tornou-se símbolo da LIJ.

Em 1744, na Inglaterra, John Newberry publicou A little pretty pocket-book: Intended for the Instruction and Amusement of Little Master Tommy and Pretty Miss Polly. Esse livro é considerado por muitos como o primeiro livro de literatura infantil não didático do mundo ocidental e consiste em rimas e imagens de crianças brincando de vários jogos (bolinhas de gude, críquete, baseball...). O livro era vendido junto com uma bola para os meninos e uma almofada de alfinetes para as meninas.

A LIJ chega ao Brasil no final do século XIX, com a tradução de histórias clássicas. O alemão Carlos Jansen foi o primeiro a publicar um livro para jovens por aqui: Contos seletos das mil e uma noites, em 1882, além de Robinson Crusoé, em 1885, Viagens de Gulliver, em 1888, e As aventuras do celebérrimo Barão de Münchausen, em 1891, entre outros. Coube à Alberto Figueiredo Pimentel a tradução dos primeiros contos de fadas, de Perrault, Grimm e Andersen. Em 1894 lança uma coletânea de 61 histórias: Contos da Carochinha – Contos populares morais e proveitosos de vários países, traduzidos e recolhidos diretamente da tradição local.

Em 1904, Olavo Bilac publica Poesias Infantis, com poemas sobre borboletas, estrelas, avó... E em uma guerra particular contra os contos de fadas, adverte as pessoas a respeito de “histórias maravilhosas e tolas que desenvolvem a credulidade das crianças, fazendo-as ter medo das coisas que não existem”.

Monteiro Lobato não deve ter concordado com ele. Tanto que criou um rico universo povoado por sacis e outros seres do folclore nacional, transformando-se assim em uma espécie de irmão Grimm brazuca. Porém, ao contrário dos alemães, mesclava as criaturas de crendices populares com personagens criados em sua própria imaginação.

Na época, o criador da boneca Emília classificou nossa literatura infantil como “pobríssima de arte”. Eram tempos de nacionalismo exacerbado. O Brasil era uma república muito jovem e nossa literatura escolar preocupava-se em glorificar a pátria e não em contar histórias para crianças.

Apesar de muitos reconhecerem Monteiro Lobato como o primeiro autor de histórias infantojuvenis brasileiro (com A Menina do Narizinho Arrebitado, de 1920), nosso primeiro livro de LIJ é A Filha da Floresta, editado pelo Jornal de Piracicaba em 1919. O autor, Thales Castanho de Andrade, publicou depois o juvenil Saudade, talvez um dos livros mais adotados por escolas no país.

De qualquer forma é Monteiro Lobato quem arrebata os corações infantis na primeira metade do século XX. Até hoje, as histórias desse paulista de Taubaté encantam crianças e adultos.


            


ENTREVISTA FOGUETE com Luiz Antônio Aguiar


Quantos livros até agora?
Em torno de 150.

Três livros seus para quem não lhe conhece?
Soneto nas trevas (Edelbra 2011);
O maior mágico do mundo (Biruta 2012); e
Sonhos em amarelo (Melhoramentos 2007).

O que você encontrou na literatura infantil e juvenil, que você não esperava encontrar quando começou?
Eu encontrei um contato direto com o leitor. Porque não somos só escritores, somos mambembes. Visitamos escolas e eventos literários e isso acrescentou uma dimensão diferente, de diálogo. É importante ver a cara da criançada.

Em uma frase, qual a importância dos Direitos Autorais?
Sobrevivência da minha arte e do meu ofício.

Site do escritor: www.luizantonioaguiar.com.br

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Este Espaço LIJ foi publicado em seção própria no jornal digital Sobrecapa Literal nº 17Acesse www.sobrecapaliteral.com.br para fazer o download da publicação inteira em formato tabloide. 

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