A primeira vez que fechei um livro com uma editora foi bem engraçada. Eu fui dormir tarde no dia anterior e acordei cedo com o telefonema. Do outro lado da linha estava o meu primeiro editor. Só que eu, claro, não acreditei. Estava tão sonado que pensei ser brincadeira de algum amigo sem noção.
– Alexandre? Aqui é da editora RHJ. Recebemos três originais seus e queremos publicar dois deles.
– Hâ? Tá. Sei. Que originais? – enrolei enquanto tentava identificar a voz do filho da mãe.
– Pensamos em lançar “O Julgamento do Chocolate” no ano que vem e…
Foi só então que eu vi que não era pegadinha. Ninguém sabia os nomes das minhas histórias. Acordei na hora. E fiquei sorrindo pelo resto da semana.
Mas esse artigo não é para falar sobre isso e sim sobre o que acontece depois.
Em um mundo perfeito, o escritor receberia o contrato em poucas semanas. O contrato de edição em língua portuguesa garantiria a publicação em até dois anos e daria 10% do valor da venda do livro para o autor do texto. Se o livro fosse vendido em e-book, os ganhos subiriam para 20% (pelo menos). O escritor poderia indicar um ilustrador (a decisão final seria sempre do editor, mas este ao menos pensaria em convidar o ilustrador indicado) e receberia com antecedência o texto revisado com algumas alterações sugeridas, além dos rascunhos das ilustrações, para aprovação. Depois aguardaria sua cota de livros em casa, teria o livro inscrito pela editora em programas de compras de governo, participaria de encontros e entrevistas marcadas pelo departamento de marketing da editora e receberia seus direitos autorais nas datas estipuladas em contrato e relatórios de vendas detalhados.
Nada disso é impossível acontecer. Alguns editores são realmente sensacionais.
Vamos falar agora sobre aquelas vezes em que o mundo conspira contra você. Quando tudo o que pode dar errado acontece.
1) Você não recebe o contrato. Há a promessa do editor, mas o papel não chega. A explicação é bem simples. O editor sabe que terá dois anos para estar com o livro pronto a partir da assinatura do contrato. Só isso. O cronograma da editora pode estar atrasado e esse é um dos recursos que algumas utilizam. E agora? Bem, você pode esperar ou mandar o texto para outra casa editorial. Se optar pela segunda opção, avise antes.
2) Há contratos que não tem como único objetivo a edição de livros (Hã? Como não?!). Tem editoras que parecem empresariar os escritores, pedindo porcentagens absurdas caso a história vá para o teatro, TV ou cinema, mas que não fazem nada para que isso aconteça. Procure negociar. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Tome o mesmo cuidado com a publicação no exterior. A cessão exclusiva dos direitos de publicação fora do Brasil não fará sentido se isso for um trabalho que a editora não realiza.
3) Você não ganhará 10% do preço de venda. Algumas editoras pagam 8% para que o ilustrador receba os outros 2%. É um assunto que gera controvérsias. Eu, por exemplo, acho muito justo que o ilustrador ganhe sua parte em DAs, mas tal quantia poderia ser retirada de outro lugar. No entanto, esses valores são comuns. Fique de olho em editoras que oferecem menos de 8% para o escritor. Algumas nem repassam os 2% para o ilustrador.
4) Já vi editora oferecer 10% de Direitos Autorais para e-books. Vi outra oferecer 30%. É um mercado novo e estão todos ainda se adaptando. Vale tentar negociar.
5) A editora não parece levar em consideração a indicação de ilustrador pelo escritor. Isso é suuuuper comum. Muitas vezes o ilustrador indicado custa mais caro do que a editora pode pagar. Em outras, o editor de arte sugere outro artista que tenha mais a ver com o texto. Aceite. Claro, a menos que você não goste nem um pouco do traço deste.
6) O escritor não recebe o texto revisado para aprovação. Absurdo total! Ligue e brigue. Se não receber os rascunhos das ilustrações, ligue e reclame. É menos grave do que o primeiro, mas não é nada educado também. Aliás, lembre o editor de enviar o texto revisado com antecedência. É comum o envio do arquivo na véspera de mandá-lo para a gráfica, dando ao escritor um prazo curtíssimo para a aprovação final.
7) A editora não inscreve seu livro em nenhum programa de compra de governo. Isso é muito ruim. Hoje o Governo compra mais de 60% de todos os livros de literatura infantojuvenil publicados no país. É bom lembrar a editora de inscrever seu livro no PNBE, PNLD, PNAIC e outros.
8) A editora não marca nenhuma entrevista ou encontro. Chato isso, não é? Tem coisas que ninguém faz melhor do que a gente mesmo.
9) Os Direitos Autorais não são depositados. Os relatórios não chegam. Converse com a editora. Pode ser alguma falha na comunicação. Se isso não adiantar, arrume um advogado.
Como vê, o dia seguinte pode ser o céu ou o inferno. Boa sorte. :-)