Quando recebi o convite para assinar essa coluna, logo pensei em entrevistas, resenhas de livros, lançamentos, chamadas para oficinas e coisa e tal. Mas depois veio a ideia de escrever um artigo sobre o surgimento da literatura infantil. Puxar desde lá do comecinho mesmo, quando as crianças eram criadas para serem vistas e não ouvidas. Pus as mãos à obra e juntei um monte de informações que resumi abaixo. E para começar com o pé direito, nesse mês os convidados da coluna são Romont Willy e Luiz Antônio Aguiar.
Ah! Para decorar esse espaço, peguei emprestado um logo que criei meses atrás para um outro site meu. Enquanto o projeto não sai, ficará morando por aqui.
ILUSTRA com Romont Willy
A partir desse mês, o Espaço LIJ esmiuçará uma ilustração de
um artista super talentoso. Estreamos com o amigo Romont Willy, esse gênio dos pincéis de Brasília.
A ilustração é do livro A
História Estranha de Eduardo Peçanha (de Gilberto Lacerda e Romont Willy,
Globo – 2012).
Romont Willy é autodidata. Sua pintura vem de anos de
observação e testes de materiais, não tendo, portanto, uma técnica fixa. A
maioria de seus desenhos é pintada com tudo que ele encontra em sua mesa: lápis
de cor, canetinhas, giz pastel, ecoline, aquarela, guache, acrílica, caneta
esferográfica, corretivo para canetas, lápis dermográfico, carvão...
Romont já tinha criado as ilustrações do livro sobre as
estranhas coleções do Eduardo Peçanha no Illustrator (programa vetorial),
quando resolveu que ficariam melhores se pintadas à mão. Fez então os primeiros
rascunhos a lápis. No decorrer da pintura testou e usou o que estava ao alcance.
Neste caso, começou com uma base de aquarela e eco line depois guache e um
pouco de acrílica. Finalizou com giz pastel, lápis de cor e canetinhas. Depois
do desenho pronto passou um verniz fixador. Há vezes em que, depois do verniz,
ainda encontra detalhes que podem ser melhorados e conserta com tinta óleo.
Site do artista: www.romontwilly.com
O SURGIMENTO DA LIJ
Vamos pegar a cápsula do tempo e voltar algumas centenas de
anos até o século XVII. Naquela época, os pequenos não tinham a saborosa
liberdade que têm hoje. Era comum, por exemplo, que as crianças tomassem banho
depois dos pais, usando e mesma água, já enlameada, da tina. Não havia
privilégios. Logo cedo, por volta dos sete anos, eram treinadas para exercer
uma profissão. Via-se um monte de meninas costurando, meninos carregando madeira, pequenos cavalariços e cozinheiras.
Se fossem da nobreza, estudavam piano, etiqueta, línguas estrangeiras e por aí
vai.
Poucos sabiam ler. Livros eram raros e caros, um luxo das
classes altas, e os contos de fada, oriundos da tradição oral, tinham os
adultos como público-alvo. Seus personagens nem sempre terminavam felizes para sempre. Carregados de
conteúdo pedagógico, com o objetivo de ensinar valores através do medo, normalmente
traziam passagens horríveis para chocar e passar mensagens subliminares.
Em 1658, o educador tcheco Jan Amos Komensky (aqui Comenius)
publicou aquele que é considerado o primeiro livro de imagens para crianças.
Ilustrado com xilogravuras, Orbis Pictus é uma espécie de
enciclopédia dividida entre os temas: natureza inanimada, botânica, zoologia,
religião e humanos e suas atividades.
Em 1697 Charles Perrault publicou Contos da Mamãe Ganso, uma
coletânea de 8 contos (A Bela Adormecida,
Chapeuzinho Vermelho, O Barba Azul, O Gato de Botas, As Fadas, A Gata
Borralheira, Henrique de Topete e O
Pequeno Polegar), difundindo o gênero que tornou-se símbolo da LIJ.
Em 1744, na
Inglaterra, John Newberry publicou A little pretty pocket-book: Intended for
the Instruction and Amusement of Little Master Tommy and Pretty Miss Polly.
Esse livro é
considerado por muitos como o primeiro livro de literatura infantil não
didático do mundo ocidental e consiste em rimas e imagens de crianças brincando
de vários jogos (bolinhas de gude, críquete, baseball...). O livro era vendido junto com uma bola para os
meninos e uma almofada de alfinetes para as meninas.
A LIJ chega ao Brasil no final do século XIX, com a tradução
de histórias clássicas. O alemão Carlos Jansen foi o primeiro a publicar um
livro para jovens por aqui: Contos seletos das mil e uma noites,
em 1882, além de Robinson Crusoé, em 1885, Viagens de Gulliver, em 1888, e As
aventuras do celebérrimo Barão de Münchausen, em 1891, entre outros. Coube
à Alberto Figueiredo Pimentel a tradução dos primeiros contos de fadas, de
Perrault, Grimm e Andersen. Em 1894 lança uma coletânea de 61 histórias: Contos
da Carochinha – Contos populares morais e proveitosos de vários países,
traduzidos e recolhidos diretamente da tradição local.
Em 1904, Olavo Bilac publica Poesias Infantis, com
poemas sobre borboletas, estrelas, avó... E em uma guerra particular contra os
contos de fadas, adverte as pessoas a respeito de “histórias maravilhosas e tolas que desenvolvem a credulidade das
crianças, fazendo-as ter medo das coisas que não existem”.
Monteiro Lobato não deve ter concordado com ele. Tanto que
criou um rico universo povoado por sacis e outros seres do folclore nacional,
transformando-se assim em uma espécie de irmão Grimm brazuca. Porém, ao
contrário dos alemães, mesclava as criaturas de crendices populares com
personagens criados em sua própria imaginação.
Na época, o criador da boneca Emília classificou nossa
literatura infantil como “pobríssima de
arte”. Eram tempos de nacionalismo exacerbado. O Brasil era uma república
muito jovem e nossa literatura escolar preocupava-se em glorificar a pátria e
não em contar histórias para crianças.
Apesar de muitos reconhecerem Monteiro Lobato como o
primeiro autor de histórias infantojuvenis brasileiro (com A Menina do Narizinho Arrebitado,
de 1920), nosso primeiro livro de LIJ é A Filha da Floresta, editado pelo
Jornal de Piracicaba em 1919. O autor, Thales Castanho de Andrade, publicou
depois o juvenil Saudade, talvez um dos livros mais adotados por escolas no
país.
De qualquer forma é Monteiro Lobato quem arrebata os
corações infantis na primeira metade do século XX. Até hoje, as histórias desse
paulista de Taubaté encantam crianças e adultos.
ENTREVISTA FOGUETE com Luiz Antônio Aguiar
► Quantos livros até agora?
Em torno de
150.
► Três livros seus para quem não lhe conhece?
Soneto nas trevas (Edelbra 2011);
O maior mágico do mundo (Biruta 2012); e
Sonhos em amarelo (Melhoramentos 2007).
► O que você encontrou na literatura infantil
e juvenil, que você não esperava encontrar quando começou?
Eu
encontrei um contato direto com o leitor. Porque não somos só escritores, somos
mambembes. Visitamos escolas e eventos literários e isso acrescentou uma
dimensão diferente, de diálogo. É importante ver a cara da criançada.
► Em uma frase, qual a importância dos
Direitos Autorais?
Sobrevivência
da minha arte e do meu ofício.
Site do
escritor: www.luizantonioaguiar.com.br
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Este Espaço LIJ foi publicado em seção própria no jornal digital Sobrecapa Literal nº 17. Acesse www.sobrecapaliteral.com.br para fazer o download da publicação inteira em formato tabloide.
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