Eu acho que todos já sabem sobre a polêmica envolvendo a edição desse ano da Feira do Livro de Nova Hartz. A escritora Luisa Geisler foi desconvidada a participar porque seu livro adotado na cidade, "Enfim, capivaras", possui palavrões usados por todos os adolescentes. Algum político local denunciou e o poder público vetou sua participação.
Bem, como patrono convidado dessa edição, e por sempre ter me colocado contra a censura, me vi no dever de indagar os organizadores da feira sobre o que aconteceu. Fui informado que eles também se surpreenderam com o ocorrido e que lançariam nota se posicionando contra essa decisão, mesmo que isso afetasse sua relação comercial com a feira. De fato o fizeram. Inclusive, um deles me disse ter uma relação de amizade com a autora e que estava muito incomodado. Apesar disso, me contou também ter responsabilidade com centenas de crianças que estavam ávidas pelos encontros, tendo lido livros meus e dos demais autores convidados e feito trabalhos sobre eles.
Ele tem razão. Tenho recebido mensagens carinhosas de alunos e professores com perguntas sobre os livros, sobre a minha visita à cidade e relatando algumas atividades realizadas com as obras.
Pensei muito sobre o que fazer. É uma feira que existe há 15 anos e que envolve toda uma comunidade. No que couber a mim, não deixarei que a decisão de um punhado afete os sonhos de todos os envolvidos.
Sugeri aos organizadores montar uma mesa para se discutir o que a literatura infantil e juvenil pode abordar. No meu entender pode e deve abordar qualquer assunto, mas a proposta da mesa é tanto falar quanto ouvir. Ou seja, abrir um diálogo. Sugeri também que convidassem a autora desconvidada para participar. Se ela não puder, ou mesmo podendo, me ofereço a fazer parte da mesa.
São tempos difíceis, com portas se fechando e raivas acumuladas. O diálogo nunca foi tão necessário, mas é importante que cada lado se posicione antes de iniciá-lo. Eu permanecerei sempre a favor da liberdade de expressão. Não abro mão disso.
Irei à feira. Levarei na bagagem alguns livros. Espero falar sobre "Quem matou o Saci?", "O livro que lê gente", "Condomínio dos Monstros", "Bichos de sombras", "Origens"... Mas também falarei sobre livros que marcaram a minha adolescência. Entre eles: "O apanhador no campo de centeio", obra de J. D. Salinger publicado há quase 70 anos e, na época, censurado por causa de sua linguagem. Hoje é um clássico da literatura mundial; "Enfim..."
PS: Li "Enfim, capivaras". Adorei! Inseguranças, bullying, paixões platônicas, descobertas, está tudo lá. Um manual sobre a adolescência. Virei fã da Luisa. Pelo menos essa polêmica toda serviu para colocar o livro em evidência. Nossos leitores merecem.
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