terça-feira, 15 de maio de 2012

Neil Gaiman responde sobre Feiras Literárias

Neil Gaiman é ingles, autor de romances e HQs lidos em todo o mundo. Entre seus trabalhos está Sandman, uma série de quadrinhos, publicada entre 88-96, que coleciona fãs até hoje.

Bem, Neil tem um Tumblr (um blog de textos curtos, mas não tão curtos quanto o Twitter) muito bacana, de onde tirei um texto que me chamou a atenção. Nele, um possível futuro escritor pergunta se é necessário frequentar feiras de livros e workshops literários para ser publicado. Ele reclama dos preços de tais eventos e quer saber se o livro pode ser publicado por seus próprios méritos. Gostei muito da resposta do autor de Sandman. Traduzi e reproduzo abaixo.

"Caro Neil, Parece que toda vez que leio sobre como um de meus autores favoritos foram publicados, descubro que eles sempre encontram seu futuro agente ou editor em uma feira de livros ou workshop literário. Eu não tenho nada contra esses eventos em geral, exceto o custo, muitas vezes alto. Será ainda possível ser publicado baseado unicamente no mérito de seu trabalho, ou, se for o caso, você poderia me aconselhar sobre o assunto? Obrigado."

Resposta do Neil:
"Eu acho que você está deixando escapar um detalhe.
Se você quer conhecer pessoas, você vai para onde elas estão. (Nesse caso, as feiras ou convenções literárias.)
Se você quiser ser um escritor melhor, você fará workshops literários.
E quanto ao custo dos eventos... Eu comecei a frequentá-los quando tinha 22 anos, não tinha um tostão, e continuei a ir mesmo sendo um jovem jornalista freelancer 'duro', e prossegui como um jovem jornalista freelancer 'duro' na companhia de outros jovens jornalistas freelancer 'duros', outros aventureiros e principiantes sem sucesso. Compartilhávamos quartos de hotéis para poupar dinheiro (algumas vezes em grupos que seriam expulsos do hotel se soubessem quantos éramos), viajávamos da maneira mais barata possível e poupávamos o que tínhamos para locomoção e comida (e comprar bebidas no bar) enquanto estávamos lá. 
E não fazíamos isso para encontrar pessoas e sermos publicados. Fazíamos isso para conhecer pessoas como nós. Porque queríamos atender aos fóruns de discussões e aprender. Porque éramos fãs das pessoas que estavam nos eventos e queríamos ouvi-las.
Eu não consigo contar o número de amizades que se iniciaram naqueles dias - muitas das pessoas com quem acabei sentando ao lado, ou conversando nos bares, naquela época, naqueles eventos, são meus amigos até hoje. Alguns são escritores e editores e agentes e artistas. Alguns são dentistas e advogados e funcionários municipais.
E algumas dessas amizades acabaram me rendendo trabalhos, o que acontece com frequência. 
Você pode ser publicado unicamente pelo mérito do seu trabalho? Bem, é óbvio. (Só o fato de você falar sobre 'seus autores favoritos' ao invés de 'autores cujo trabalho você odeia' já é significante). Se você for um editor ou um agente, e tiver dois manuscritos em mãos, um sendo uma porcaria rascunhada por alguém que você conheceu em um bar de um evento literário e outro sendo um trabalho incrível de alguém que você nunca encontrou, certamente todo editor ou agente vivo optará pelo trabalho incrível.
Por outro lado, se você é um editor buscando um escritor para um livro sobre Douglas Adams, porque a pessoa com quem você iria trabalhar desistiu do projeto, e você se lembrou de um cara, com quem você conversou em um bar na noite de um evento, que tinha entrevistado o Douglas Adams, e aquele cara parecia uma pessoa legal e lúcida, e que não seria um saco trabalhar com ele, você procurará aquele cara... bem, isso é algo que não teria acontecido se não houvesse aquele encontro.
Workshops literários? Eu fui para Milford, na Grã-Bretanha, em 1986 e 1987. E uma conversa tarde da noite em um bar, depois que todo o trabalho terminara, me rendeu uma série de antologias compartilhadas... mas isso aconteceu porque pessoas se juntaram e conversaram e se mexeram para fazer as coisas acontecerem. Ninguém estava lá para fazer contatos. Levando em conta que as lições que aprendi em Milford me transformaram de Quase Publicável para Escritor Razoavelmente Bom, eu não acho que de forma alguma foi caro. (Custa 560 libras agora, por uma semana de horários preenchidos, e é o equivalente ao que paguei em 1986.)  
Minha sugestão para ser publicado 'unicamente pelo mérito do seu trabalho', é, peculiarmente ou não, a mesma que todas as sugestões que já dei em "como ser publicado'. Faça uma busca nos arquivos de http://journal.neilgaiman.com/ e divirta-se."

Um comentário:

  1. ADOREI!!!
    Renovou minhas energias para continuar estudando (mesmo sendo "dura") e conhecendo pessoas. Também me deixou com muita vontade de levar adiante aquele grupo de troca-troca de pareceres literários para escritores iniciantes! Vamos agregar?

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