Janeiro é um mês corrido, não é? Quem trabalha com
literatura infantil e juvenil sabe o que é ter a corda no pescoço. Escritores
revisando copidesques, ilustradores correndo com o trabalho, contratos sendo
enviados pelo correio, editores indo a loucura com os prazos apertados... Isso
é coisa do tal PNBE que não espera os retardatários.
E ainda tem as crianças em casa, de férias, entendiados por
causa das chuvas de janeiro que entram pela janela molhando tudo. E a gripe?
Alguém aí pegou? Aqui em casa tombamos os quatro.
Mas fevereiro vem logo aí, com novos originais ávidos por
leitura e sonhos de mudanças para novas casas.
Os convidados do mês são duas moças esbanjadoras de talento.
Na Ilustra, minha long lost sister
Janaina Tokitaka e na Entrevista Foguete a genial mãe de jabutizinhos, Stella
Maris Rezende! Viva elas!
ILUSTRA com Janaina Tokitaka
Janaina e eu temos muito em comum. Descobrimos que gostamos
dos mesmos temas literários. Ambos adoramos monstros, dragões, robôs e outros
bichos. Já até combinamos de criar algo juntos. Nos aguardem!
As imagens abaixo são etapas do processo de criação do
inédito livro-imagem Nanquim.
A paulistana Janaina Tokitaka estreou com o livro “Como
casar com André Martins”, da Indigo, pela Girafinha em 2005. Entre publicados e
contratados, essa menina tem mais de 30 livros editados, sendo 8 como escritora
e ilustradora.
Na imagem acima, Janaina fez o traço a lápis, com a mão
muito leve para não marcar demais o papel, que é de fibra de algodão. Depois,
finalizou os personagens com bico de pena e ecoline cinza. Por último, preencheu
a imagem com aquarela e guache. Esta imagem tem uma particularidade: o dragão foi
feito com a técnica oriental sumiê. O desenho foi feito direto no papel, sem
rascunho e utilizando um pincel próprio para isso. (O mesmo usado para
caligrafia.)
Site da artista: http://www.janainatokitaka.carbonmade.com
IDEIAS NO PAPEL
É mais ou menos assim que acontece com muitos autores. A
ideia vem. Fica lá teimosa na cabeça, sem querer ir embora. Começamos a nos
entusiasmar com tudo, mas falta o gancho, aquilo que faz a história valer a
pena ser escrita. O diferencial.
Uma vez comentei que ter uma história na cabeça e não
colocar no papel é como ter um brinquedo que não podemos tirar da embalagem.
Ficamos namorando aquilo, mas sem realmente poder brincar com ele.
Quando comecei a escrever literatura infantil e juvenil, eu
queria criar textos para cada ideia que surgia. Claro, a história nunca chegava
pronta. As vezes era uma situação. Uma frase que ouvi na rua. Em outras eram palavras
somente. Resolvi anotar cada uma. Quem sabe a inspiração não vinha depois? A
lista foi ficando longa. “Bulhufas”, “Meu bicho carpinteiro de estimação”, “7
dias com os aborígenes”...
Embora eu tenha desenvolvido ideias anotadas, entre elas algumas
que já viraram bons livros, chega uma hora em que você percebe que nem tudo o
que antes parecia ser bacana, serve. Bulhufas? O que fazer com isso? Pode virar
nome de personagem e só.
Com a experiência, passamos a nos tornar mais críticos e a
selecionar melhor o que escrevemos. Nosso tempo livre já não é tão elástico
assim. Cada história é pesquisada, escrita, reescrita e revisada. Mostramos
para colegas. Ouvimos e absorvemos as críticas. Reescrevemos novamente. Assumimos
outros compromissos literários: Palestras, visitas, leituras, encontros com
leitores, reuniões com editores...
Hoje em dia, só sento para escrever um livro se for algo
especial. Um texto diferente. Com um bom gancho e um final que surpreenda. Claro,
continuo com meus escritos sem compromisso. Mas quando é para publicação, aí é
outra história.
Afinal, alguns brinquedos são mais legais na embalagem.
Depois que os tiramos de lá, vemos que não mexem os braços, que a pintura tem
falhas e que o elástico é quebradiço.
ENTREVISTA FOGUETE com Stella Maris
Rezende
40 livros publicados em 33 anos de carreira.
► Três livros seus para quem não te conhece?
Maravilhosa e
inesquecível ideia de amar (Dimensão)
A mocinha do Mercado
Central (Globo Livros)
A guardiã dos segredos
de família (SM)
► Dizem que "A mocinha do mercado central" é o
primeiro livro juvenil a ganhar o Jabuti. Dolores Prades escreveu uma matéria
intitulada "Livros tem idade?" onde diz que "A adoção de faixas
etárias para indicar os leitores de um determinado livro, além de promover uma
nivelação arbitrária, reduz e limita a vida e a abrangência dos livros."
Ela afirma ainda que os bons livros encontrarão leitores sensíveis em qualquer
idade. Você concorda? E já que estamos no tema, por que "A mocinha do Mercado
Central" é considerado literatura juvenil?
Concordo
com Dolores Prades, autoridade no assunto. No entanto, “A mocinha do Mercado
Central” pode ser considerado um romance juvenil, devido ao tema e ao tom da
narrativa, que “conversam” com o olhar juvenil. A alma juvenil permanece em
nós, adultos, daí o livro carregar em sua construção-desconstrução vários
aspectos que podem encantar outros leitores mais experientes na vida e no trato
com a palavra. É importante frisar que ao me dedicar a um texto, preocupo-me em
fazer literatura, sem me deter no público-alvo.
► Ao longo de sua carreira, você recebeu vários prêmios
e nos últimos anos vieram vitórias importantes, como no Barco a Vapor e nos
Jabutis. Com tantos troféus na estante, e já tendo conquistado quase tudo o que
podia por aqui, pretende ainda concorrer em concursos literários no Brasil ou
buscará desafios internacionais, como o Prêmio Compostela da Kalandraka?
É claro que almejo outros prêmios, mas o fundamental é dar
continuidade ao projeto estético, sempre tentando fazer arte, trabalhar a
linguagem, surpreender e encantar o leitor. Costumo dizer que a literatura é a
arte que fala por silêncios e cala entre palavras.
► Você começou como atriz e, de acordo com seu site, seu
primeiro livro foi uma peça teatral. Tem outras peças escritas além de
"Corpo Tenso Voz Passiva"? Pretende escrever mais para o teatro?
A atriz permanece, principalmente quando converso com
crianças e jovens nas escolas e feiras de livros. Faço questão de ler trechos
dos meus livros em voz alta, por meio de uma leitura dramática, e isso tem
colaborado na divulgação da minha prosa poética, que tem toda a atmosfera da
sonoridade do linguajar mineiro. Não pretendo continuar escrevendo para o
teatro, mas os críticos costumam dizer que meus livros são teatrais e
cinematográficos, o que de certa forma preenche uma lacuna do trabalho de
dramaturga e atriz. Posso também voltar a escrever para o teatro, quem sabe? No
ano passado escrevi um roteiro para cinema, “Sem medo de amar”, baseado no meu
livro de contos “Sem medo de amar” publicado pela editora Moderna. É bem
provável que vire filme de fato. Sou apaixonada por cinema também, tal qual a
protagonista de “A mocinha do Mercado Central”...
Site da
autora: http://www.stellamarisrezende.com.br
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Este Espaço LIJ foi publicado em seção própria no jornal digital Sobrecapa Literal nº 24. Acesse www.sobrecapaliteral.com.br para fazer o download da publicação inteira em formato tabloide.
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