quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Espaço LIJ - Novembro de 2012

Novembro tem FLIPORTO, FLIJO, Feira do Livro de Porto Alegre e outros tantos eventos literários espalhados pelo Brasil inteiro. Não acredita? Então procure pelo Circuito Nacional de Feiras de Livro, calendário organizado anualmente pelo MINC. Eu já estou aqui fazendo as malas. Esse mês viajo para Curitiba, para a Feira do Livro de São José dos Pinhais. Depois volto, lanço um livro na Livraria da Travessa e embarco rumo à Olinda, para conversar com a criançada de Pernambuco.

Tanto trabalho vale a pena. O convívio com os leitores e com colegas e profissionais ligados à literatura infantil e juvenil é dos mais prazerosos que existem. Nada melhor do que trocar uma ideia inteligente, não é?

Por essas e outras, comento, no artigo do mês, um texto que li no Tumblr do Neil Gaiman, sobre o que motiva o autor a frequentar esses tipos de eventos.  

Tá bom ou quer mais?
OK! Você venceu! Os convidados da coluna são os queridos André Neves e Nireuda Longobardi.


ILUSTRA com Nireuda Longobardi

Falei com a Nireuda pela primeira vez quando fizemos o Trem de Histórias, uma antologia de autores da AEILIJ. A Nireuda fez a xilo da capa do livro. Na época, ela gentilmente me enviou de presente um livrinho em cordel com um trabalho seu. Fiquei vidrado na sua arte e hoje tenho o maior orgulho de apresentá-los a essa artista bacanérrima.

As imagens abaixo são etapas do processo da criação de uma xilogravura para o livro A peleja do Boto cor-de-rosa com a Sereia Iara, escrito por Alexandre Morais e editado pela Suinara.

  

Nireuda é potiguar e mora em São Paulo. Estudou Educação Artística e Artes Plásticas, na Faculdade de Belas Artes de São Paulo. É professora, escritora e ilustradora de livros infantis e cordéis. Para ilustrar livros utiliza a xilogravura, o kiriê e outras técnicas de ilustração. Realiza também oficinas para diversas instituições como: Casa das Rosas, PraLer, SESI Projeto Literatura Viva, SESCs, bibliotecas, livrarias e escolas. Hoje seu trabalho é voltado para a pesquisa de histórias tradicionais.

Alguns de seus livros:
Mitos e lendas do Brasil em cordel (Editora Paulus), selecionado para os programas Minha Biblioteca 2011 e PNBE 2012 e escolhido pela FNLIJ. O livro representou o Brasil na Feira de Bologna 2010 e foi indicado como um dos “100 livros imperdíveis” da Revista Nova Escola (Abril) 2012.
Escolha seu dragão (Cortez), em parceria com a escritora Rosana Rios, está no catálogo da FNLIJ e representou o Brasil na Feira de Bologna 2012.
O rouxinol e o imperador em cordel (Mundo Mirim) foi selecionado pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo para o projeto Livros na Sala de Aula 2013, voltado aos anos iniciais do Ensino Fundamental das escolas públicas de São Paulo.




POR QUE FREQUENTAR EVENTOS LITERÁRIOS?

Neil Gaiman é inglês, autor de romances e HQs lidos em todo o mundo. Entre seus trabalhos está Sandman, uma série de quadrinhos, publicada entre 88-96, que coleciona fãs até hoje.

Bem, Neil tem um Tumblr (um blog de textos curtos, mas não tão curtos quanto o Twitter) muito bacana, de onde tirei um texto que me chamou a atenção. Nele, um possível futuro escritor pergunta se é necessário frequentar feiras de livros e workshops literários para ser publicado. Ele reclama dos preços de tais eventos e quer saber se o livro pode ser publicado por seus próprios méritos. Gostei muito da resposta do autor de Sandman. Traduzi e reproduzo abaixo.

"Caro Neil, Parece que toda vez que leio sobre como um de meus autores favoritos foram publicados, descubro que eles sempre encontram seu futuro agente ou editor em uma feira de livros ou workshop literário. Eu não tenho nada contra esses eventos em geral, exceto o custo, muitas vezes alto. Será ainda possível ser publicado baseado unicamente no mérito de seu trabalho, ou, se for o caso, você poderia me aconselhar sobre o assunto? Obrigado."

Resposta do Neil:
"Eu acho que você está deixando escapar um detalhe.
Se você quer conhecer pessoas, você vai para onde elas estão. (Nesse caso, as feiras ou convenções literárias.)
Se você quiser ser um escritor melhor, você fará workshops literários.
E quanto ao custo dos eventos... Eu comecei a frequentá-los quando tinha 22 anos, não tinha um tostão, e continuei a ir mesmo sendo um jovem jornalista freelancer 'duro', e prossegui como um jovem jornalista freelancer 'duro' na companhia de outros jovens jornalistas freelancer 'duros', outros aventureiros e principiantes sem sucesso. Compartilhávamos quartos de hotéis para poupar dinheiro (algumas vezes em grupos que seriam expulsos do hotel se soubessem quantos éramos), viajávamos da maneira mais barata possível e poupávamos o que tínhamos para locomoção e comida (e comprar bebidas no bar) enquanto estávamos lá.
E não fazíamos isso para encontrar pessoas e sermos publicados. Fazíamos isso para conhecer pessoas como nós. Porque queríamos atender aos fóruns de discussões e aprender. Porque éramos fãs das pessoas que estavam nos eventos e queríamos ouvi-las.
Eu não consigo contar o número de amizades que se iniciaram naqueles dias - muitas das pessoas com quem acabei sentando ao lado, ou conversando nos bares, naquela época, naqueles eventos, são meus amigos até hoje. Alguns são escritores e editores e agentes e artistas. Alguns são dentistas e advogados e funcionários municipais.
E algumas dessas amizades acabaram me rendendo trabalhos, o que acontece com frequência.
Você pode ser publicado unicamente pelo mérito do seu trabalho? Bem, é óbvio. (Só o fato de você falar sobre 'seus autores favoritos' ao invés de 'autores cujo trabalho você odeia' já é significante). Se você for um editor ou um agente, e tiver dois manuscritos em mãos, um sendo uma porcaria rascunhada por alguém que você conheceu em um bar de um evento literário e outro sendo um trabalho incrível de alguém que você nunca encontrou, certamente todo editor ou agente vivo optará pelo trabalho incrível.
Por outro lado, se você é um editor buscando um escritor para um livro sobre Douglas Adams, porque a pessoa com quem você iria trabalhar desistiu do projeto, e você se lembrou de um cara, com quem você conversou em um bar na noite de um evento, que tinha entrevistado o Douglas Adams, e aquele cara parecia uma pessoa legal e lúcida, e que não seria um saco trabalhar com ele, você procurará aquele cara... bem, isso é algo que não teria acontecido se não houvesse aquele encontro.
Workshops literários? Eu fui para Milford, na Grã-Bretanha, em 1986 e 1987. E uma conversa tarde da noite em um bar, depois que todo o trabalho terminara, me rendeu uma série de antologias compartilhadas... mas isso aconteceu porque pessoas se juntaram e conversaram e se mexeram para fazer as coisas acontecerem. Ninguém estava lá para fazer contatos. Levando em conta que as lições que aprendi em Milford me transformaram de Quase Publicável para Escritor Razoavelmente Bom, eu não acho que de forma alguma foi caro. (Custa 560 libras agora, por uma semana de horários preenchidos, e é o equivalente ao que paguei em 1986.) 
Minha sugestão para ser publicado 'unicamente pelo mérito do seu trabalho', é, peculiarmente ou não, a mesma que todas as sugestões que já dei em "como ser publicado'. Faça uma busca nos arquivos de http://journal.neilgaiman.com/ e divirta-se."

Fonte:



ENTREVISTA FOGUETE com André Neves

Quantos livros publicados? Destes, quantos como escritor?
Contar para mim é tão difícil. Perdoem-me, mais ou menos uns 100. Agora escrito e ilustrados, como são poucos, eu sei. 19.

Três livros seus para quem não te conhece?
Casulos - Global / imagem
A Caligrafia de Dona Sofia - Paulinas / texto e imagem
Tom -  Projeto / texto e imagem (lançamento)

Uma vez você disse que pretendia escrever mais e ilustrar menos. Por quê?
O mundo é complexo e as imagens mudam e transformam a vida contemporânea  Meus pensamentos mudam e estou amadurecendo, a cada dia, o ato da escrita e da criação. O livro está mudando. O papel, a gráfica, o design, digital. Tanta coisa muda, no futuro ainda mais. Não sei se conseguirei acompanhar o ritmo que o olhar visual dessa garotada vai ter no futuro. Muito talentos surgirão, é natural. Talvez nesse momento eu tenha parcerias legais, escrevendo com grandes e jovens ilustradores.

Obax, Lino, Margarida, Tom e outros livros seus brincam com a fantasia. Qual a importância da fantasia na sua obra?
Total. Meu criar se alimenta do impossível para ser possível nos livros brincar.

Em sua última apresentação, você se definiu como um “escritor de imagens”. O que quis dizer?
Que penso por imagens. E se escrevo, são elas, "as imagens", que me fazem pular a distância de um parágrafo a outro. Sem asas.



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Este Espaço LIJ foi publicado em seção própria no jornal digital Sobrecapa Literal nº 21Acesse www.sobrecapaliteral.com.br para fazer o download da publicação inteira em formato tabloide.

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