Novembro tem FLIPORTO, FLIJO, Feira do Livro de Porto Alegre
e outros tantos eventos literários espalhados pelo Brasil inteiro. Não
acredita? Então procure pelo Circuito Nacional de Feiras de Livro, calendário
organizado anualmente pelo MINC. Eu já estou aqui fazendo as malas. Esse mês
viajo para Curitiba, para a Feira do Livro de São José dos Pinhais. Depois
volto, lanço um livro na Livraria da Travessa e embarco rumo à Olinda, para
conversar com a criançada de Pernambuco.
Tanto trabalho vale a pena. O convívio com os leitores e com
colegas e profissionais ligados à literatura infantil e juvenil é dos mais prazerosos que existem. Nada melhor do que trocar uma ideia inteligente, não
é?
Por essas e outras, comento, no artigo do mês, um texto que
li no Tumblr do Neil Gaiman, sobre o
que motiva o autor a frequentar esses tipos de eventos.
Tá bom ou quer mais?
OK! Você venceu! Os convidados da coluna são os queridos
André Neves e Nireuda Longobardi.
ILUSTRA com Nireuda Longobardi
Falei com a Nireuda pela primeira vez quando fizemos o Trem de Histórias, uma antologia de
autores da AEILIJ. A Nireuda fez a xilo da capa do livro. Na época, ela gentilmente
me enviou de presente um livrinho em cordel com um trabalho seu. Fiquei vidrado
na sua arte e hoje tenho o maior orgulho de apresentá-los a essa artista
bacanérrima.
As imagens abaixo são etapas do processo da criação de uma
xilogravura para o livro A peleja do
Boto cor-de-rosa com a Sereia Iara, escrito por Alexandre Morais e editado
pela Suinara.
Nireuda é potiguar e mora em São Paulo. Estudou Educação
Artística e Artes Plásticas, na Faculdade de Belas Artes de São Paulo. É
professora, escritora e ilustradora de livros infantis e cordéis. Para ilustrar
livros utiliza a xilogravura, o kiriê e outras técnicas de ilustração. Realiza também
oficinas para diversas instituições como: Casa das Rosas, PraLer, SESI Projeto
Literatura Viva, SESCs, bibliotecas, livrarias e escolas. Hoje seu trabalho é
voltado para a pesquisa de histórias tradicionais.
Alguns de seus livros:
Mitos e lendas do
Brasil em cordel
(Editora Paulus), selecionado para os programas Minha Biblioteca 2011 e PNBE
2012 e escolhido pela FNLIJ. O livro representou o Brasil na Feira de Bologna
2010 e foi indicado como um dos “100 livros imperdíveis” da Revista Nova Escola
(Abril) 2012.
Escolha seu dragão (Cortez), em parceria com a
escritora Rosana Rios, está no catálogo da FNLIJ e representou o Brasil na
Feira de Bologna 2012.
O rouxinol e o
imperador em cordel
(Mundo Mirim) foi selecionado pela Secretaria de Educação do Estado de São
Paulo para o projeto Livros na Sala de Aula 2013, voltado aos anos iniciais do
Ensino Fundamental das escolas públicas de São Paulo.
Site da artista: http://nireuda.blogspot.com.br
POR QUE FREQUENTAR EVENTOS LITERÁRIOS?
Neil Gaiman é inglês, autor de romances e HQs
lidos em todo o mundo. Entre seus trabalhos está Sandman, uma série de quadrinhos, publicada entre 88-96, que
coleciona fãs até hoje.
Bem, Neil tem um Tumblr (um blog de textos curtos, mas não
tão curtos quanto o Twitter) muito bacana, de onde tirei um texto que me chamou
a atenção. Nele, um possível futuro escritor pergunta se é necessário
frequentar feiras de livros e workshops
literários para ser publicado. Ele reclama dos preços de tais eventos e quer
saber se o livro pode ser publicado por seus próprios méritos. Gostei muito da
resposta do autor de Sandman.
Traduzi e reproduzo abaixo.
"Caro Neil,
Parece que toda vez que leio sobre como um de meus autores favoritos foram
publicados, descubro que eles sempre encontram seu futuro agente ou editor em
uma feira de livros ou workshop literário. Eu não tenho nada contra esses
eventos em geral, exceto o custo, muitas vezes alto. Será ainda possível ser
publicado baseado unicamente no mérito de seu trabalho, ou, se for o caso, você
poderia me aconselhar sobre o assunto? Obrigado."
Resposta do Neil:
"Eu acho que você
está deixando escapar um detalhe.
Se você quer conhecer
pessoas, você vai para onde elas estão. (Nesse caso, as feiras ou convenções
literárias.)
Se você quiser ser um
escritor melhor, você fará workshops literários.
E quanto ao custo dos
eventos... Eu comecei a frequentá-los quando tinha 22 anos, não tinha um
tostão, e continuei a ir mesmo sendo um jovem jornalista freelancer 'duro', e
prossegui como um jovem jornalista freelancer 'duro' na companhia de outros
jovens jornalistas freelancer 'duros', outros aventureiros e principiantes sem
sucesso. Compartilhávamos quartos de hotéis para poupar dinheiro (algumas vezes
em grupos que seriam expulsos do hotel se soubessem quantos éramos), viajávamos
da maneira mais barata possível e poupávamos o que tínhamos para locomoção e
comida (e comprar bebidas no bar) enquanto estávamos lá.
E não fazíamos isso
para encontrar pessoas e sermos publicados. Fazíamos isso para conhecer pessoas
como nós. Porque queríamos atender aos fóruns de discussões e aprender. Porque
éramos fãs das pessoas que estavam nos eventos e queríamos ouvi-las.
Eu não consigo contar
o número de amizades que se iniciaram naqueles dias - muitas das pessoas com
quem acabei sentando ao lado, ou conversando nos bares, naquela época, naqueles
eventos, são meus amigos até hoje. Alguns são escritores e editores e agentes e
artistas. Alguns são dentistas e advogados e funcionários municipais.
E algumas dessas
amizades acabaram me rendendo trabalhos, o que acontece com frequência.
Você pode ser
publicado unicamente pelo mérito do seu trabalho? Bem, é óbvio. (Só o fato de
você falar sobre 'seus autores favoritos' ao invés de 'autores cujo trabalho
você odeia' já é significante). Se você for um editor ou um agente, e tiver
dois manuscritos em mãos, um sendo uma porcaria rascunhada por alguém que você
conheceu em um bar de um evento literário e outro sendo um trabalho incrível de
alguém que você nunca encontrou, certamente todo editor ou agente vivo optará
pelo trabalho incrível.
Por outro lado, se
você é um editor buscando um escritor para um livro sobre Douglas Adams, porque
a pessoa com quem você iria trabalhar desistiu do projeto, e você se lembrou de
um cara, com quem você conversou em um bar na noite de um evento, que tinha
entrevistado o Douglas Adams, e aquele cara parecia uma pessoa legal e lúcida,
e que não seria um saco trabalhar com ele, você procurará aquele cara... bem,
isso é algo que não teria acontecido se não houvesse aquele encontro.
Workshops literários?
Eu fui para Milford, na Grã-Bretanha, em 1986 e 1987. E uma conversa tarde da
noite em um bar, depois que todo o trabalho terminara, me rendeu uma série de
antologias compartilhadas... mas isso aconteceu porque pessoas se juntaram e
conversaram e se mexeram para fazer as coisas acontecerem. Ninguém estava lá
para fazer contatos. Levando em conta que as lições que aprendi em Milford me
transformaram de Quase Publicável para Escritor Razoavelmente Bom, eu não acho
que de forma alguma foi caro. (Custa 560 libras agora, por uma semana de
horários preenchidos, e é o equivalente ao que paguei em 1986.)
Minha sugestão para
ser publicado 'unicamente pelo mérito do seu trabalho', é, peculiarmente ou
não, a mesma que todas as sugestões que já dei em "como ser publicado'.
Faça uma busca nos arquivos de http://journal.neilgaiman.com/ e
divirta-se."
Fonte:
ENTREVISTA FOGUETE com André Neves
► Quantos livros publicados? Destes, quantos como
escritor?
Contar para mim é tão difícil. Perdoem-me, mais ou menos uns
100. Agora escrito e ilustrados, como são poucos, eu sei. 19.
► Três livros seus para quem não te conhece?
Casulos - Global / imagem
A Caligrafia de Dona
Sofia - Paulinas /
texto e imagem
Tom - Projeto / texto e imagem (lançamento)
► Uma vez você disse
que pretendia escrever mais e ilustrar menos. Por quê?
O mundo é complexo e as imagens mudam e transformam a vida contemporânea Meus pensamentos mudam e estou amadurecendo, a cada dia, o ato
da escrita e da criação. O livro está mudando. O papel, a gráfica, o design,
digital. Tanta coisa muda, no futuro ainda mais. Não sei se conseguirei
acompanhar o ritmo que o olhar visual dessa garotada vai ter no futuro. Muito
talentos surgirão, é natural. Talvez nesse momento eu tenha parcerias legais,
escrevendo com grandes e jovens ilustradores.
► Obax, Lino, Margarida, Tom e outros livros seus brincam
com a fantasia. Qual a importância da fantasia na sua obra?
Total. Meu criar se alimenta do impossível para ser possível
nos livros brincar.
► Em sua última apresentação, você se definiu como um “escritor
de imagens”. O que quis dizer?
Que penso por imagens. E se escrevo, são elas, "as
imagens", que me fazem pular a distância de um parágrafo a outro. Sem
asas.
Site do
escritor: http://confabulandoimagens.blogspot.com.br/
***
Este Espaço LIJ foi publicado em seção própria no jornal digital Sobrecapa Literal nº 21. Acesse www.sobrecapaliteral.com.br para fazer o download da publicação inteira em formato tabloide.
Nenhum comentário:
Postar um comentário