Os acontecimentos envolvendo a premiação do Jabuti desse ano motivaram a
criação de um documento de colaboração entre a CBL, a FNLIJ e a AEILIJ.
As entidades reconhecem que é importante salvaguardar as instituições,
fortalecendo seus laços e compromissos com a literatura e com o público
leitor. Só assim, com o apoio de todos, conseguiremos enfrentar os anos
que virão.
A AEILIJ entrou em contato com a CBL e ambas
convidaram a FNLIJ à mesa, para conversar sobre as mudanças no
importante Prêmio Jabuti. Foram três reuniões presenciais, duas no Rio e
uma em São Paulo, durante a Bienal, além de diversos e-mails e
telefonemas, para chegarmos à carta que segue.
A AEILIJ reafirma,
com isso, seu compromisso em defender a literatura infantil e juvenil, e
agradece à FNLIJ pela parceria, e à CBL pela recepção, tendo esta se
mostrado, desde o nosso primeiro contato, aberta ao diálogo.
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Prêmio Jabuti: Carta de colaboração das entidades do livro com
sugestões para a valorização da literatura destinada aos públicos
infantil e juvenil.
No dia 10 de agosto de 2018, em São Paulo, os
presidentes da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Luís Antonio Torelli,
da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), Wander Soares,
da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e
Juvenil (AEILIJ), Alexandre de Castro Gomes, e a diretora executiva da
CBL, Fernanda Gomes Garcia, reuniram-se com o objetivo de formalizar o
recebimento da proposta de mudanças a serem apresentadas à futura
curadoria do Prêmio Jabuti com o intuito de valorizar a Literatura
Infantil e Juvenil.
Segundo o presidente da AEILIJ, a Literatura
Infantil e a Literatura Juvenil destinam-se a públicos distintos e, por
isso, não podem ser agrupadas em uma mesma categoria. Assim como a
Literatura Adulta, a Infantil e a Juvenil podem se apresentar em
diferentes formas, como conto, poesia, romance, novela e outros. Embora a
Literatura Infantil, a Juvenil e a Adulta se dividam entre os mesmos
gêneros e formas, há diferenças entre os estilos, o que justifica
premiações em separado. Entendendo que ficaria inviável premiar cada
forma da Literatura Infantil e Juvenil, foi trazida a sugestão de
agraciar novamente as duas categorias, Infantil e Juvenil separadas,
além de três elementos essenciais da LIJ: texto, conjunto de ilustrações
e projeto gráfico. As cinco premiações contribuiriam para valorizar a
Literatura Infantil e a Literatura Juvenil, tão desprestigiadas nos
últimos anos no Brasil.
A proposta visa ressaltar a importância
da Literatura Infantil e Juvenil, que, na maioria das vezes, é a porta
de entrada para a descoberta do livro, para que o indivíduo se torne
leitor e para a formação das pessoas como cidadãos críticos e
conscientes do seu papel social. Quem teve a oportunidade de acessar o
livro na infância, tenha sido estimulado dentro de casa ou na escola, em
algum momento, pode abandonar a leitura. Porém, depois de um período em
que o gosto de ler divide a atenção com outros interesses, acaba por
reencontrá-lo na fase adulta. Este reencontro só será possível se
previamente tiver acontecido a apresentação ao livro, papel desempenhado
pela Literatura Infantil e pela Literatura Juvenil. Estas, em conjunto,
possuem participação por volta de 25% a 30% do mercado, segundo as
estatísticas mais conservadoras, podendo ser ainda mais representativa.
Feita esta introdução, foi sugerido pelo presidente da AEILIJ,
Alexandre de Castro Gomes, que a próxima curadoria do Prêmio Jabuti
avalie e contemple as seguintes categorias relativas à Literatura
Infantil e à Literatura Juvenil:
• Premiação de Melhor Livro de
Literatura Infantil - Solicita-se o retorno da categoria Infantil,
mantendo-se os critérios adotados até então, porém, contemplando o
escritor e o ilustrador na premiação. Sabemos da importância da
narrativa visual para o livro infantil. Portanto justifica-se premiar os
autores de texto e de imagem. Pode ganhar esse prêmio de melhor livro
infantil um livro só de imagem, com um ótimo projeto gráfico.
•
Premiação de Melhor Livro de Literatura Juvenil - A Literatura Juvenil
também é merecedora de uma categoria própria. O livro para jovem tem a
ver com a complexidade da temática. A imagem pode ser importante aqui
também. Se pegarmos o livro “Psique”, da Ângela Lago, editora RHJ, as
ilustrações são fundamentais e ele não é um livro infantil. Na
Literatura Juvenil, o autor pode desafiar o leitor por meio do enredo
central, como é feito na literatura infantil, mas pode construir outros
enredos paralelos, complexificando tanto a história como a estrutura dos
personagens. Os autores do livro podem buscar um estilo mais rebuscado
na forma de contar a história já que se pressupõe que este leitor terá
um repertório mais amplo, além da capacidade de ler narrativas mais
longas e complexas. A diferença para a Literatura Adulta ocorre porque o
grau de exigência deste leitor é bem maior já que sua experiência de
vida poderá permitir que ele reflita sobre temas e enredos que o jovem e
a criança pouco usufruiriam por não poderem se projetar ou fazer o
simulacro das situações vividas pelos personagens.
Além do
retorno das categorias supracitadas, foi registrada a sugestão de que
sejam criadas três premiações dedicadas aos elementos essenciais à
Literatura Infantil e Juvenil:
• Melhor Projeto Gráfico de LIJ -
Utilizando como exemplo, dá-se os projetos gráficos de “Flicts”, de
Ziraldo e “Haicobra”, de Fabio Maciel e Marcio Sno. O projeto gráfico é
uma linguagem que colabora com a história por meio de recursos como
formato, recortes, cores, relevos, fonte, espaçamento, layout, áreas de
respiro, entre outros elementos que compõem a narrativa e justificam a
apreciação diferenciada do projeto gráfico.
• Melhor Conjunto de
Ilustrações de LIJ – A proposta de premiar o conjunto de ilustrações é
reconhecer que a ilustração não está em função do texto, mas em diálogo
com a obra. Nesta categoria, não se premia o livro como um todo, como
nas categorias Livro Infantil e Livro Juvenil. O propósito é reconhecer
especificamente a qualidade da narrativa visual.
• Melhor Texto
de Literatura Infantil - A proposta é premiar a melhor narrativa
textual, independente da ilustração e do projeto gráfico. Não se premia o
livro como um todo, como nas categorias Livro Infantil e Livro Juvenil,
mas, especificamente, a qualidade da narrativa escrita.
Finalizando, o presidente da AEILIJ sugeriu que para as categorias
dedicadas à análise da Literatura Infantil e da Literatura Juvenil, seja
retomado o envio de exemplares físicos das obras na inscrição.
Os presidentes, entendendo a importância destas sugestões, acordaram que
o presidente da CBL, Luís Antonio Torelli, e da Fundação Nacional do
Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), Wander Soares - que desempenha a
função de coordenador da Comissão do Prêmio Jabuti na CBL - serão
portadores destas sugestões à próxima diretoria da CBL, responsável por
convidar a próxima curadoria do Prêmio Jabuti.
Atenciosamente,
Luis Antonio Torelli
Presidente - Câmara Brasileira do Livro
Wander Soares
Coordenador da Comissão do Prêmio Jabuti e Presidente da FNLIJ
Alexandre de Castro Gomes
Presidente da AEILIJ