Bem, depois de viajar para Curitiba e Olinda, de lançar um
livro e de participar de um bate-papo em uma escola no Rio de Janeiro, eis que
pinta uma entrevista em São Paulo na última semana de novembro. Cadê tempo para
terminar a coluna?
O tempo pode ser curto, mas graças à LIJ, os amigos são
muitos. Embora dezembro seja um mês fraco para eventos, trago aqui convidados
de primeira linha. Craques das teclas e dos pincéis que encantam a todos nós
com sua criatividade. Meu presente de Natal para vocês:
Na Ilustra, diretamente de Barcelona para as páginas do
Sobrecapa: Taline Schubach!
Na Entrevista Foguete, minha amiga e super escritora: Sandra
Pina!
No Artigo do Mês, um texto de uma convidada muito querida, a
artista Cristina Villaça!
Palmas que elas merecem!
ILUSTRA com Taline Schubach
A Taline é uma figuraça. Quem acompanha suas publicações se
diverte com seu rico senso de humor e é arrebatado pelo seu talento com cores e
formas. Seus personagens estão entre os mais expressivos que já vi. Sou fã
mesmo.
As imagens abaixo são etapas do processo da criação do livro
Foi o coelho! (nome provisório), que
será lançado pela Callis em 2013. É o primeiro livro com texto dessa artística super
simpática, que há cinco anos trabalha com ilustração editorial.
Taline Schibach é carioca e vive em Barcelona. Segundo ela,
para o livro acima mencionado, “a técnica
utilizada foi a aquarela (Schmincke), com contornos feitos a bico de pena em
tinta chinesa siena. Há um pouquinho de grafite também. A primeira foto é na
mesa de luz, onde passo o rascunho para o papel final, de aquarela - nesse caso
um Fabrianno 100% algodão. Ao lado, uma foto do processo e outra da ilustração
mais próxima do trabalho final.”
UM QUIPROQUÓ EM OLINDA
Cristina Villaça
Acabo de chegar de Olinda, onde participei da VIIIª
FLIPORTO, a grandiosa Festa Literária Internacional de Pernambuco. Com a
presença de 90.000 pessoas, segundo estimativa dos organizadores do evento, a
festa é, na realidade, a culminância de um projeto cultural muito mais amplo,
pois tem o compromisso de atuar na formação de leitores, na valorização do
livro e da cultura literária.
A edição de 2012 da FLIPORTO trouxe como tema o teatro: A vida é um espetáculo, e o grande
homenageado foi o escritor pernambucano Nelson Rodrigues. Fui chamada a
apresentar meu trabalho de escritora de livros para crianças, assim também como
vários outros colegas, e a atuar na FLIPORTO CRIANÇA ministrando minha oficina
de teatro para iniciantes, a OFICINA QUIPROQUÓ.
Ainda estou desfazendo as malas, tanta bagagem eu trouxe...
Creio que meu livro Quiproquó:
jogos de teatro na Educação Infantil (Editora Ao Livro Técnico), que lancei
durante o evento, caiu como uma luva no tema da festa. Tanto que pude comprovar
tudo o que digo no livro com a oficina que dirigi durante o evento.
Compareceram cerca de vinte crianças de cinco a dez anos acompanhadas de seus
familiares em uma manhã de domingo ensolarado e muito quente. Quase todos os
adultos que foram deixar suas crianças na tenda destinada às oficinas, na Praça
do Carmo, decidiram ficar e assistir minha aula. Foi mesmo muito divertido!
O fascínio que o teatro desperta em alunos de quaisquer idades
justifica-se pelo evidente teor lúdico da atividade, mas não posso deixar de me
referir ao desejo de algumas crianças, desejo muitas vezes estimulado por seus
pais, de se tornarem atores e atrizes de televisão. Esse comportamento é um
reflexo do exagerado culto às celebridades que presenciamos em nossos dias. Mas
para mim, educadora desde o comecinho dos anos oitenta, o teatro e as aulas de
teatro atuam com eficácia e rapidez na formação de leitores.
Ora, teatro é também literatura: conta-se uma história, mais
ainda, vive-se uma história, mesmo que temporariamente. Não conheço melhor
disparador de leitura que uma boa história. Minha oficina QUIPROQUÓ é tão
somente isso: um processo que encontrei ao longo de minha carreira para
estimular a leitura e o fazer artístico em geral. Foi a fórmula que encontrei
para fazer a minha parte na árdua tarefa de educador que é operar positivamente
na formação de indivíduos criativos e investigativos, atuantes na sociedade de
maneira competente e digna.
Quem chega desavisado à minha aula pode ter a impressão de
que tudo não passa de uma bagunça, um alvoroço, uma verdadeira babel onde as
crianças falam alto, se movimentam e até se arrastam pelo chão. Mas quem está
envolvido no processo sabe perfeitamente que tudo faz sentido. O que faço é
dividir a turma em grupos e propor um desafio
a cada um deles, ou seja, proponho um jogo
teatral. O desafio nada mais é do
que uma história sem final. O improviso e a interação entre os alunos irá
solucionar, ao longo de alguns minutos, a proposta inicial.
As aulas de teatro são o lugar da fantasia e da imaginação.
Assim, uma tenda quase vazia, com poucas cadeiras e uma mesa, vira palco de
devaneios coletivos: um castelo, uma floresta, um navio de piratas. Enfim, as
aulas de teatro são um ambiente mágico e acolhedor onde a única regra é o
respeito às diferenças, um lugar onde a criação flui sem censuras. Para mim, a
educação pela arte tem importância essencial no universo da criança uma vez que
pode constituir um meio de experimentação e expressão criativa.
Em teatro, na comédia, o quiproquó
acontece quando uma confusão é formada a partir de uma série de equívocos, daí
explodem o riso e a gargalhada. A alegria que o público experimenta ao assistir
um espetáculo cômico representa mais que diversão, mas, sim, interação,
comunhão. Minha oficina pretende ser, então, uma confusão criativa, uma alegria
coletiva, uma comunhão entre prazer e educação.
Sabemos que educação não se faz apenas em casa, ou na
escola, mas nas ruas, nas cidades, no dia a dia, na comunhão entre as pessoas.
Sabemos que a responsabilidade de educar e formar leitores não é privilégio de
pais e educadores, mas de escritores, produtores de cultura, e, mais ainda, do
poder público. Na FLIPORTO vi, de fato, acontecerem educação e cultura.
Ensinei e aprendi. Ri e me emocionei. Cresci. Na bagagem que
trouxe de Olinda, veio a certeza de que educação de qualidade também se faz na
praça.
Cristina Villaça atua
como educadora e contadora de histórias há mais de vinte anos. É professora de
literatura e teatro. É escritora de livros infantis e livros para educadores.
Tem mestrado em Literatura Brasileira e especialização em Literatura
Infanto-juvenil.
ENTREVISTA FOGUETE com Sandra Pina
► Quantos livros publicados?
Em torno de 26 ou 27.
► Três livros seus para quem não te conhece?
O pano de boca - Cortês
As muitas versões de
um mesmo beijo - Larousse
Que dia é hoje / Um,
dois, feijão com arroz - Zit
► Qual a maior
diferença entre escrever para crianças, escrever para adolescentes e escrever
para adultos?
Eu acho que a grande diferença está na linguagem que você
utiliza: o tipo de discurso que você vai usar, a forma como os temas são
abordados. Por exemplo, em um livro para adolescentes ou adultos, eu posso usar
recursos como um flashback. Já no
livro infantil, esse tipo de artifício não é recomendado.
► Alguns anos atrás, havia várias coleções juvenis cuja
sinopse invariavelmente girava em torno de pequenas turmas de jovens
investigadores. Cito como exemplo a Turma do Gordo, de João Carlos Marinho, a
Turma do Posto Quatro, de Hélio do Soveral, O Clube do Falcão Dourado, de
Gladys, Or Irmãos Encrenca, de Stella Carr, entre outros. Os textos policiais
para jovens se esgotaram? Além da coleção ecológica “Os Recicláveis”, de Toni
Brandão, e do estilo “Fala sério”, de Thalita Rebouças, o que mais há?
Eu acho que os textos policiais não se esgotaram. Continuam
bem vivos e é um gênero que o adolescente gosta muito. Claro que, hoje em dia,
temos que utilizar outras ferramentas, até porque a tecnologia nos permite
isso. Precisamos pensar no universo do leitor: o que ele conhece. Tem coisas
legais sendo criadas e tem coisas muito ruins também. Eu acho que existe uma
diferença de foco de mercado. As editores não investem pesado em mídia nem em
marketing de ponto de venda. Hoje, o grande comprador das editoras é o Governo.
O Governo não se compromete com a compra do volume 1, 2 e 3. Por isso o
investimento nesse tipo de coleção é menor. Pode-se comprar livros com os
mesmos personagens, mas não necessariamente é a mesma coleção.
► Defina o que a AEILIJ representa para você.
O autor trabalha sozinho. A AEILIJ é um ponto de encontro
que pode resultar em grandes benefícios para os associados. O contato mais
próximo entre os autores resulta em troca de ideias e nessa troca, você descobre
questões em comum.