segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Ebooknews: Vocês querem todos os livros de graça, então?

Achei esse link na rede. É de 2012, mas poderia ter sido postado hoje, que não faria diferença. Vale a leitura.

Fonte: http://ebooknews.com.br/editoras-autores-existissem/


Vocês Querem Todos os Livros de Graça, Então?
Da redação do Ebooknews - 23 de março de 2012

No mês passado publicamos alguns artigos sobre pirataria. Essa semana, mais alguns fatos ocorreram que nos trouxeram de volta a esse assunto polêmico.
Eu concordo com as reivindicações feitas por aqueles que ficaram órfãos do site de downloads ilegais. Era preciso que fosse oferecido um serviço de compra melhor, era preciso que os eBooks fossem lançados juntamente com os impressos, e era preciso que os livros digitais (e até os impressos) tivessem preços mais justos, para que mais pessoas tivessem acesso ao conhecimento e à cultura.
Em parte, concordo com algumas das justificações de quem pirateia. E concordo totalmente com aqueles que querem ter em um eBook comprado a liberdade de usá-lo em quantos dispositivos fossem desejados, e que o eBook pudesse ser emprestado ou compartilhado com familiares e amigos. Ainda não há solução boa para isso, mas creio que chegaremos a elas um dia.
Porém, um comentário feito em um dos nossos posts me chamou a atenção. Nele, a leitora Cristiane disse que a decisão do fechamento do iOS Books pela ABDR era a cara do Brasil, e que mais uma vez estávamos caindo na elitização cultural. Gostaria de falar um pouco a respeito disso, de forma bem simplista.
Para que todos os livros fossem gratuitos, ou algum novo modelo de negócio teria que ser testado, ou as editoras deveriam ser ONGs, que não possuem lucro, e distribuem o trabalho que fazem. Sem lucro, editoras não existem, e a maioria dos autores não existiria. E como teríamos livros sem editoras e autores? A resposta é simples: não haveriam livros.
Bernard Cornwell
OI, MEU NOME É BERNARD CORNWELL E EU ESCREVO PARA VIVER
Pegando como exemplo um autor de que gosto muito, Bernard Cornwell. Historiador, Cornwell possui o dom de transformar suas pesquisas em romances fantásticos, que explicam a história de maneira muito fluida, no meio de um romance. Para poder fazer suas pesquisas, e ainda assim sobreviver, Cornwell precisa de dinheiro. Para escrever seus romances, Cornwell precisa de tempo, muito tempo, e muita pesquisa. Sem dinheiro, ele teria que trabalhar em outra coisa, e talvez não tivesse tempo de escrever os mais de 20 livros – tesouro inestimável para o mundo – que já escreveu.
Ou seja, falando de forma bem simples, se Cornwell não recebesse dinheiro para escrever, não escreveria. Se ele não escreve, não há livro.
O mesmo vale para as editoras. O dinheiro para pagar gráficas, diagramadores, revisores e tantas outras fases de um livro, precisa vir de algum lugar. Se editoras fossem ONGs, o dinheiro viria de patrocínios de outras empresas ou, que ironia, do governo. Ou seja, de algum jeito, esse dinheiro sairia do nosso bolso da mesma forma. Porque ninguém trabalha de graça 24 horas por dia. As pessoas precisam comer, e ter tempo pra viver também. Assim, sem dinheiro, não há livros.
Não estou defendendo as editoras. Sei que os valores pagos para autores muitas vezes é injusto. Mas sei também que muito do dinheiro que uma editora recebe vai para distribuidoras, e até para as livrarias. Não conheço nenhum editor tão rico quanto um banqueiro, ou um político. E também não preciso começar a explicar para vocês, novamente, toda a cadeira das livrarias e distribuidoras, que também precisam de dinheiro para funcionar, né?
Workflow do Livro
DÁ PARA FAZER TUDO ISSO DE GRAÇA?
Há muitas iniciativas diferentes, como aBookboon. Também há projetos de muita qualidade, como o que toda a comunidade de Software Livre desenvolve. Mas creiam, as editoras são tradicionais, ainda não vivem na internet. A Bookboon e o Software Livresurgiram na internet, onde pessoas podem gastar uma parte de seu tempo para fazer coisas gratuitas. Mas nem tudo é assim. Por enquanto, na situação em que vivemos, é preciso que o dinheiro rode para que algum conteúdo seja gerado.
Existem muitos, MUITOS livros gratuitos pela internet. E não digo os pirateados. Me refiro àqueles de domínio público. Há tantos livros para download legalizado que eu tenho certeza de que jamais uma pessoa será capaz de ler em toda a sua vida. Cultura de graça, gente! Sem elitização!
Porque esse pessoal que reclama que a cultura é elitizada não vai acessar ao site doDomínio Público e baixar toda a coleção de Fernando Pessoa? Porque não baixam todo Machado de Assis? Conteúdo de alta, altíssima qualidade! Porque não procuram livros cujos autores disponibilizam gratuitamente suas obras para download?
Ah, não. Vocês não querem os velhos para ler. Vocês não querem aproveitar o chato do Machado de Assis. Vocês querem Harry Potter de graça. Vocês querem A Guerra dos Tronos free. Vocês querem o último volume da Marian Keyes, vocês querem Crepúsulo e Jogos Vorazes, lançamentos! Vocês querem o conteúdo novo, a modinha, aqueles que muita gente teve que investir muito dinheiro para fazer sucesso, aqueles que um autor suou muito para terminar de escrever. Vocês querem o Vade Mécum de graça, um livro de uma complexidade sem limites para diagramar, revisar, imprimir, etc.
Guerra dos tronos
GUERRA DOS TRONOS FREE! O/
Vocês querem livros de qualidade, bem revisados, traduzidos, editados e diagramados. Querem a facilidade de encontrar o livro pronto, e baixar o Adobe Reader ou o Calibre, tão gratuitos quanto, para ler tudo. E querem agora! Não querem esperar!
E mais: pouquíssimos querem se arriscar como os proprietários do iOS Book e dar a cara para bater, criando um site e mantendo ele. Comprando livros, digitalizando, gastando tempo e distribuindo para os outros. Vocês querem na mão.
Se querem cultura gratuita, a internet tem de sobra para vocês, para uma vida toda, eu garanto.
Querem lutar por preços de eBooks mais justos? Eu estou na luta com vocês, tanto por preços mais baratos como por serviços mais utilizáveis, por atendimento menos robótico, por traduções de qualidade. Contem comigo.
Mas, como diria meu pai, não me peça de graça o que eu faço para viver. Não peçam isso das editoras e nem dos autores. Há inúmeros problemas nessa cadeia, mas roubar tudo de graça não é a solução para ninguém.
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