sexta-feira, 1 de março de 2013

Espaço LIJ - Março de 2013

Que calor é esse? Dá uma vontade de deitar no ar-condicionado e ler a pilha de livros que eu tenho na mesinha de cabeceira. Por outro lado, preciso escrever e arrumar a casa.

Tem gente que diz que o ano começa em março, depois do Carnaval. Se pensarmos que antigamente o calendário romano era composto de 10 meses, sendo março o primeiro mês, até que estão certos. Mas daí veio o calendário gregoriano que acrescentou mais dois meses no final, transferindo-os depois para o começo do ano.

E nesses dois primeiros meses dá para fazer muita coisa. Quem cochilou pode ter perdido grandes oportunidades. Então larguemos a preguiça de lado e vamos à luta!

Os convidados do mês são Guto Lins e Thais Linhares. Uhuuu!


ILUSTRA com Thais Linhares

A Thais é uma autora super antenada com tudo o que acontece no mercado literário. Recentemente postou um vídeo no seu blog, intitulado “Quanto custa uma ilustração? - parte 1”
(http://thaislinhares.blogspot.com.br/2012/12/quanto-custa-uma-ilustracao-video.html), onde explica os direitos do ilustrador, entre outros assuntos. O vídeo já conta com mais de onze mil acessos!

As imagens abaixo são etapas do processo de criação de um projeto pessoal da autora com o nome provisório A Trilha Monstruosa.

  
Em LIJ, além das dezenas de livros como ilustradora, sendo o primeiro “O Tesouro das Virtudes para Crianças”, da Ana Maria Machado, pela editora Nova Fronteira, Thais tem cinco livros como escritora. Este ano foi selecionada para o Dicionário de Ilustradores Iberoamericanos da SM.

Thais, explique para a gente a técnica utilizada.
Rabisco tudo no lápis, só para ter ideia da composição. Na mesa de luz traço em nanquim (caneta descartável, 0.4, 0.3, 0.2). Daí vou detalhando os sombreados. Originalmente é para ser p&b, mas se eu achar necessário jogo a cor, no caso colorindo digitalmente, visto que o papel que usei não suportaria a tinta. Entretanto  e já fiz isto, posso aquarelar se sobrepor o original com um papel apropriado na mesa de luz. Eu pinto as cores no papel Canson usando o traço apenas como guia. Depois escaneio as aquarelas e sobreponho o arquivo das cores ao do traço usando o recurso de "camadas" no programa de edição de imagem. Fica super bacana, pois o traço fica só na camada do preto (na separação CMYK) e as cores (magenta, azul e amarelo) não interferem nas linhas, evitando aquele "borrão"quase imperceptível mas que tira a qualidade das cores na hora da impressão no papel.




LIVROS E AUTORES REJEITADOS

Li dois artigos muito interessantes nessa semana. O primeiro cita os motivos de grandes clássicos da literatura terem sido rejeitados por editoras. Entre eles, um que todos conhecem: “Harry Potter e a pedra filosofal”.

A hoje milionária J. K. Rowling já comeu o pão que o chifrudo amassou. Para terem uma ideia, a moça não tinha dinheiro nem para xerocar o primeiro livro da série e precisou bater cada cópia na máquina de escrever. Mermão! O livro tem 320 páginas! Já pensaram o que é isso? Taí uma autora que merece todo o sucesso que tem. E o tempo gasto em cada cópia foi literalmente jogado fora, pois o destino do calhamaço era inevitavelmente a lixeira. O motivo? Os editores o consideravam longo demais para uma história infantil. Há!

Bem, Rowling decidiu contratar um agente literário que, de cara, descartou a obra pelo mesmo problema. Mas quando a assistente deste estava levando o livro para o lixo, notou uma ilustração da autora e resolveu interceder por Hogwarts. O agente então enviou a obra para um editor amigo que resolveu mostrá-la para sua filha de 8 anos. A menina o devorou em poucas horas e voltou pedindo mais. Todos sabemos o que aconteceu depois.

“A revolução dos bichos”, de George Orwell, também levou cartão vermelho em várias editoras, mas o motivo era mais bizarro. Não havia um editor que tivesse coragem de publicar um livro que criticava a revolução russa numa época em que Stalin era aliado contra os nazistas. E olha que Orwell não era um desconhecido qualquer. O livro foi finalmente publicado em 1945, depois do final da Segunda Guerra Mundial, quando ninguém mais se preocupava com a opinião de Stalin, o porco Napoleão da fazenda dos bichos.

Outro livro rejeitado foi ” And to Think That I Saw It on Mulberry Street”, primeira obra de Dr. Seuss – o mesmo autor de “Norton e o mundo dos Quem”, “O gato da cartola”, “Como o Grinch roubou o Natal”, “Lorax” e mais um monte. Seu livro de estreia foi rejeitado nada menos do que 27 vezes antes de ser publicado! Faz qualquer um pensar em desistir e aprender a cozinhar ou a tocar piano, não é? O motivo? Os editores consideravam o texto muito bobo e diferente. Não entendiam que bichos eram aqueles ilustrados ali. Por que tanta rima? Hoje Dr. Seuss é uma referência na LIJ norte-americana e tem mais de 200 milhões de livros vendidos.

Eu também já tive livros rejeitados, quem não os tem? O “Condomínio dos Monstros”, publicado em 2010 pela RHJ, havia sido negado por pelo menos 6 editoras antes de virar livro. Hoje suas vendas já ultrapassaram as 200 mil cópias.

O segundo artigo lido traz uma lista criada pelo editor argentino Mario Muchnik com 10 atitudes de escritores que um editor não suporta. São elas:

01)    Escritor que não admite que um editor mexa em uma vírgula do texto.
02)    Escritor que impõe sua ideia de capa.
03)    Escritor estrangeiro que encrenca com a tradução, mesmo sem saber uma palavra do idioma para o qual o livro foi traduzido.
04)    Escritor que entrega o texto precisando de urgentes revisões e, quando o editor as faz, leva o livro para outro editor.
05)    Escritor que entrega vários livros por ano, e que exige que o editor os publique rapidamente.
06)    Escritor que entrega o texto e depois desaparece, deixando que o editor se vire com as possíveis dúvidas que surgirem com a leitura.
07)    Escritor que liga uma ou mais vezes por dia para saber como anda a publicação.
08)    Escritor que indica textos de amigos, muitas vezes de qualidade duvidosa.
09)    Escritor que vive alterando a versão final do texto, assim atrasando toda a produção.
10)    Escritor que considera os editores mercenários e não artesãos, e que acredita que os editores vivem às custas dos autores.

Fonte: 



  
ENTREVISTA FOGUETE com Guto Lins

Quantos livros publicados?
Tenho 39 títulos (2 teóricos), alguns reeditados. No total 48 edições. Todos como autor de texto e imagem. Perdi a conta daqueles que sou somente autor das imagens.

Três livros seus para quem não te conhece?
Vou transgredir e selecionar 4 títulos:
Palavras (Mercuryo Jovem)
Mãe (Globo)
Manual de boas maneiras (Globo)
Túnel do tempo (Dimensão)

Devido à sua formação, o design é uma característica marcante de sua obra.
Em algum momento, no começo da carreira, você se sentiu inibido ou achou que seu texto ficou aquém do que você tinha a oferecer como ilustrador? Você sempre teve vontade de escrever ou essa vontade surgiu depois que começou a ilustrar outros livros?
No meu 3o ano da ESDI, optei por fazer um livro infantil como projeto. "Ganhei" um texto de Silvia Orthof e trabalhei nele durante o semestre. Ela curtiu, me indicou e no ano seguinte nascia DUMONZITO (Ao Livro Técnico). De la pra cá (1984) segui traduzindo textos diversos até gostar de um meu. QUAL É A COR (saiu pela Ao Livro Técnico em 90 e dois anos atras pela Mercuryo). De qq forma, sendo texto meu ou não, cada texto é um marco zero e pede uma linguagem especifica.

"Todo dia é dia de design" é um texto seu que mostra que o design está em tudo o que nos cerca. Também de sua autoria, o "Livro Infantil? Projeto gráfico, metodologia e subjetividade" aborda aspectos da produção de livros infantis sob a ótica do design gráfico. Como autor e designer, qual sua opinião sobre o objeto livro e seus formatos seculares achatados, de clássicas quatro pontas? A evolução do papel para o digital é bem-vinda? A possibilidade de trabalhar em 3D, ou acrescentar som e movimento à imagem é mais esperada pelo escritor ou pelo designer Guto Lins? 
Além de minha pratica no mercado, sou professor universitário e participo direta ou indiretamente de projetos e pesquisas diversos. Para mim o grande barato é a história, a narrativa, e ela também pode ser contada em formatos e para públicos diversos. O bom contador da piada descobre o ritmo e o vocabulário mais adequados para que o público (seja qual for) ao final ria da piada. O cinema não matou o teatro, a TV não matou o cinema. Hoje, em uma faculdade de música vc encontrará alunos tocando pro-tools lado a lado com outros tocando oboé. Tudo ao mesmo tempo.

Em uma excelente entrevista sua para Marcus Tavares, publicada no Rio Mídia (http://portalmultirio.rio.rj.gov.br/portal/riomidia/rm_entrevista_conteudo.asp?idioma=1&idMenu=4&label=&v_nome_area=Entrevistas&v_id_conteudo=64560), você afirma que a literatura infantil está se didatizando porque a escola passou a ser o grande comprador. Na Inglaterra, o McDonald's vai substituir os brinquedos do Mc Lanche Feliz por livros, e, com isso, a rede de fast food vai se tornar o maior distribuidor de livros infantis do Reino Unido, distribuindo cerca de 15 milhões de unidades nos próximos dois anos. Você acredita que com a ajuda da iniciativa privada, podemos "desdidatizar" a literatura infantil? Que outras alternativas temos?
A compra 'chapa branca' virou a alternativa econômica no nosso país continental. Sem filtro.
Uma tiragem de 3.000 exemplares pode durar anos para escoar e vários dos profissionais envolvidos ganham percentuais. Na 1a edição autor ganha 10%, o editor também por aí. Gasta-se uns 30% com produção e 50% fica com o dono da Kombi. O distribuidor que estoca e gerencia.
Os planos de governo comprar em larga escala (10.000, 30.000) numa tacada só. Eles gerenciam o estoque. Obviamente os preços são diferenciados (toda a matemática muda) mas a compra é contra entrega. Pa-pum.
A participação da sociedade é fundamental, seja através de campanhas publicitárias ou humanitárias. O problema sempre é a seleção. Como fazê-la isenta, criteriosa, apolítica, mirando na diversidade e na qualidade?
A questão é que industrialmente falando, o livro, como qualquer produto industrializado  tende a diminuir o valor unitário, quando produzido em larga escala e tendo um retorno mais planificável.


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Este Espaço LIJ foi publicado em seção própria no jornal digital Sobrecapa Literal nº 25Acesse www.sobrecapaliteral.com.br para fazer o download da publicação inteira em formato tabloide.


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